
MARIANA LENHARO - O Estado de
S.Paulo
O Brasil deve pôr em prática, nos
próximos anos, testes clínicos para avaliar a eficácia de dois tratamentos
desenvolvidos pelo pesquisador Ferid Murad, prêmio Nobel de Medicina de 1998.
Um deles é para diarreia infantil e doença inflamatória do intestino e o outro,
para um tipo de tumor cerebral comum e agressivo: o glioblastoma. A iniciativa
é resultado de uma parceria oficializada na semana passada em São Paulo entre
Murad e a indústria farmacêutica Biolab.
Os estudos com pacientes serão
desenvolvidos com a colaboração da Universidade de São Paulo (USP) e da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No caso da droga contra a
diarreia, a previsão é de que os testes comecem em dois anos.
Murad diz que a diarreia pode ser
provocada por várias bactérias, entre elas a Escherichia coli. O que seu grupo
de pesquisa descobriu em 1978 foi que o mecanismo de atuação da E. coli envolve
o aumento da produção da molécula GMP cíclico. Foi o estudo desse mensageiro
químico que lhe rendeu o prêmio Nobel (mais informações nesta pag.). Há oito
anos, descobriu um componente capaz de bloquear a produção de GMP cíclico pelas
bactérias.
Em animais, o uso desse
componente cessou a diarreia provocada pela E. coli e também pelo vibrião
colérico, ligado à cólera. Principalmente entre crianças e idosos, a
desidratação decorrente da diarreia pode matar. Hoje, o tratamento indicado é a
reidratação com soro caseiro, feito com água, sal e açúcar. Trata-se de uma
receita simples e barata, porém o problema é o acesso à água limpa em situações
de desastres naturais, como enchentes, furacões e terremotos.
"Há cerca de três anos, um
furacão atingiu o Haiti. Mais de mil pessoas morreram de diarreia. Se houvesse
uma droga como essa, isso não teria acontecido", observa. O objetivo da
pesquisa é obter uma pílula capaz de cessar a diarreia sem depender da
disponibilidade de água limpa.
Estudo complementar, feito em
parceria com a Biolab em uma universidade do Canadá, mostrou que as conclusões
são válidas para diarreias não relacionadas a bactérias. "Poderia ser útil
não só para diarreia, comum no terceiro mundo, como para doenças inflamatórias
do intestino, típicas de primeiro mundo, e para as quais não há remédio
eficaz", diz Gilberto De Nucci, professor da Unicamp.
Câncer. Ao identificar que em
muitos tipos de tumor faltava uma enzima que produz o GMP cíclico, Murad
desenvolveu a hipótese de que, aumentando a produção dessa molécula, o tumor
pararia de crescer.
Em camundongos, a aplicação dessa
estratégia quadruplicou a sobrevida. Enquanto os que não receberam o tratamento
sobreviviam apenas 21 dias depois do início do câncer, os que foram tratados
sobreviveram 84 dias.
"Esse conceito pode ter
aplicação para câncer de pulmão, pâncreas e ovário", diz Murad. Em 2013, uma
pesquisa na Unicamp testará se a medicação é capaz de chegar ao cérebro dos
pacientes. Essa etapa, mais inicial do que a pesquisa sobre diarreia, é chamada
de prova de conceito.
Fonte:http://www.abrafarma.com.br/news01.htm
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